Artigo | Nova Hollywood: Uma Herança Cinematográfica
- Jam Nascimento
- 1 de mai.
- 5 min de leitura

O cinema americano dos anos 70 foi uma época de pura revolução, sabia? Surgiu um movimento influenciado pelo cinema europeu chamado Nova Hollywood que contava com diretores como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Robert Altman, Brian De Palma e Steven Spielberg.
Eles simplesmente pegaram a linguagem do cinema e deram um chacoalhão, trazendo um jeito novo de contar histórias, uma estética diferente e temas que antes não se viam tanto.
Filmes como Taxi Driver (1976), O Poderoso Chefão (1972), Chinatown (1974) e Apocalypse Now (1979) mostraram que dava para fazer um cinema ousado, pessoal e que ainda assim atraísse um monte de gente.
Porém, nos anos 80, com a chegada dos blockbusters e a influência cada vez maior dos grandes estúdios, esse estilo foi perdendo força, e a indústria ficou mais controlada e voltada para o comercial. E é aí que a gente se pergunta: será que o espírito da Nova Hollywood ainda vive no cinema de hoje?
Mesmo que a indústria do cinema tenha mudado bastante desde os anos 70, aquelas ideias que o movimento trouxe ainda influenciam muita gente que faz filme hoje em dia.

Aquela pegada mais crua e realista, os personagens que não são totalmente bons nem totalmente maus, e aquela vontade de bagunçar os gêneros tradicionais, tudo isso a gente ainda encontra em filmes de diretores mais atuais como Paul Thomas Anderson, Quentin Tarantino, David Fincher, Christopher Nolan e os irmãos Safdie.
Filmes como Magnólia (1999), Pulp Fiction (1994), Zodíaco (2007), Dunkirk (2017) e Joias Brutas (2019) mostram que ainda tem gente querendo experimentar na forma de fazer filme e contar histórias que não seguem as regras do cinema comercial tradicional.
Só que também não dá para dizer que é tudo igual. Nos anos 70, os estúdios deram uma liberdade criativa enorme para essa galera mais nova e com uma visão autoral, permitindo que eles fizessem filmes arriscados e inovadores.
Hoje em dia, o esquema dos grandes estúdios tá muito mais focado em franquias que já sabem que vão dar dinheiro e em fórmulas que já foram testadas.
Isso acaba dificultando que novos diretores com um olhar mais pessoal consigam espaço na estrutura tradicional de Hollywood, e muitos deles acabam tendo que buscar dinheiro por fora ou ir para as plataformas de streaming para conseguir fazer seus projetos.

Apesar dessas dificuldades que a indústria de hoje impõe, o cinema mais autoral ainda encontra seu caminho para florescer. Diretores como Ari Aster e Robert Eggers conseguiram criar filmes originais que conversam com essa herança da Nova Hollywood, usando uma forma de fazer cinema mais pessoal e menos convencional.
E a gente vê cada vez mais filmes independentes ganhando prêmios importantes, como o Oscar e o Festival de Cannes, o que mostra que ainda tem público querendo ver histórias ousadas e com um estilo diferente.
Outro ponto importante é como a tecnologia ajudou a manter vivo esse espírito da Nova Hollywood. A chegada do cinema digital e a quantidade de plataformas de streaming que existem hoje em dia permitiram que cineastas independentes tivessem acesso a equipamentos de produção de alta qualidade sem depender dos grandes estúdios.
Isso abriu espaço para novas vozes que, mesmo trabalhando fora do sistema tradicional, carregam aquela mesma ousadia e vontade de inovar que marcava os diretores do movimento dos anos 70.
E não podemos esquecer que alguns dos diretores daquela época continuam na ativa e super influentes. Martin Scorsese, por exemplo, mantém a sua visão artística intacta, desafiando os limites do cinema convencional em filmes como O Irlandês (2019) e Assassinos da Lua das Flores (2023).

Coppola, por sua vez, tá tentando retomar aquela liberdade criativa com Megalopolis, um projeto ambicioso que reflete aquele mesmo espírito ousado que marcou a carreira dele em 1970.
Essa persistência só reforça a ideia de que o impacto deles não ficou só no passado, mas continua presente no cinema de hoje.
Só que a relação entre a Nova Hollywood e o cinema atual não é só uma continuação, mas também uma transformação. O mercado de cinema de hoje tem desafios que não existiam nos anos 70, como essa onda de filmes de franquia que dominam tudo, a força do streaming e a crise das salas de cinema tradicionais.
Então, mesmo que a estética e os temas do movimento ainda estejam vivos em muitos aspectos, eles precisam se adaptar o tempo todo para sobreviver num ambiente que valoriza cada vez mais o entretenimento rápido e histórias que a gente já sabe como vão terminar.
Nos últimos anos, além dos diretores já citados, o cinema autoral encontrou espaço em cineastas que desafiam ainda mais as convenções narrativas e estéticas.
Filmes como Sombras da Vida (2017), de David Lowery, exploram o tempo e a perda de maneira contemplativa, enquanto Sob A Pele (2013), de Jonathan Glazer, utiliza uma abordagem minimalista e abstrata para criar uma experiência imersiva e desconcertante.

O terror psicológico de Hereditário (2018), de Ari Aster, e a reinterpretação do gênero histórico em O Farol (2019), de Robert Eggers, mostram como o cinema contemporâneo pode misturar influências do passado com uma identidade visual e temática única.
No cenário independente, No Coração da Escuridão (2017), de Paul Schrader, resgata a introspecção existencialista da Nova Hollywood, enquanto Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022), dos Daniels, desconstrói fórmulas narrativas convencionais para criar uma experiência multigênero ousada.
A influência do movimento também se espalhou pelo cinema mundial, inspirando diretores que buscam romper com estruturas narrativas tradicionais e criar obras desafiadoras.
No México, cineastas como Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos e O Regresso) e Carlos Reygadas (Luz Silenciosa) trabalham com realismo cru e personagens moralmente ambíguos, características marcantes do movimento dos anos 70.
Na Coreia do Sul, Hong Sang-soo (O Dia em Que Ele Chegar) e Im Sang-soo (A Empregada) rompem com convenções narrativas e estéticas ao explorar a intimidade, o desejo e a política com um olhar profundamente pessoal, enquanto na França, cineastas como Leos Carax (Holy Motors) continuam a explorar a experimentação cinematográfica.

Até no Brasil, vemos reflexos dessa ousadia em obras como Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que combina política, violência estilizada e narrativas não convencionais, evocando o espírito transgressor em um contexto latino-americano.
O estilo da Nova Hollywood, então, não sumiu, ele evoluiu. Pode ser que não esteja mais concentrado dentro dos grandes estúdios como era na década de 70, mas ele continua presente naqueles cineastas que desafiam as regras do cinema comercial, seja trabalhando dentro ou fora do sistema tradicional.
A essência do movimento – aquela busca por ser autêntico, por bagunçar as formas tradicionais de contar histórias e por experimentar na estética – ainda dá para sentir nas obras de diretores de hoje.
E enquanto tiver gente querendo romper com o esperado e explorar novas formas de contar histórias, a herança da Nova Hollywood vai continuar influenciando e mudando o cinema para as próximas gerações.
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