Crítica | A Substância - A Revolução de Elisabeth Sparkle no Mundo do Terror
- Jam Nascimento
- 26 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de nov. de 2024

Dirigido e escrito por Coralie Fargeat, "A Substância" traz Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid em uma trama que mergulha nas profundezas da decadência e do desejo de rejuvenescimento.
A história gira em torno de Elisabeth Sparkle (Moore), uma celebridade que, em sua busca desesperada por relevância, recorre a uma droga do mercado clandestino capaz de criar uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma.
Embora a temática de atrizes em queda não seja novidade, — tendo como exemplo o excelente Crepúsculo dos Deuses (1950) de Billy Wilder — Fargeat oferece uma nova perspectiva ao explorar o dilema de Elisabeth, que, ao se submeter ao procedimento, descobre que a linha entre ela e sua versão idealizada é mais tênue do que parece.
A narrativa mantém o espectador em suspense, revelando camadas surpreendentes até seus momentos finais.

O filme faz uma crítica incisiva ao machismo e ao etarismo, presentes não apenas na indústria do entretenimento, mas na sociedade em geral. A diretora constrói um contraste poderoso entre Elisabeth, uma mulher talentosa que se vê forçada a recorrer a artifícios estéticos, e homens caricatos que ocupam posições de poder sem esforço. Essa dinâmica evidencia as injustiças que ainda persistem e a necessidade urgente de evolução social.
Demi Moore brilha como Elisabeth, transmitindo de forma impressionante a dor e a indignação de ser deixada de lado, apesar de seu vasto legado. Sua transformação ao longo da trama é hipnotizante. Margaret Qualley, como Sue, é cativante e traz uma tensão intrigante, embora sua interpretação careça de algumas nuances para ser verdadeiramente marcante. Dennis Quaid, por sua vez, encarna um personagem repulsivo, e seu desempenho está à altura do papel.

Entre os momentos memoráveis, destaca-se a sequência da experiência com a substância, onde o gestual de Moore é acompanhado por efeitos visuais impactantes que geram um nó no estômago. O terceiro ato, grandioso e bem executado, combina efeitos práticos e CGI de forma a criar cenas inesquecíveis.
Com uma duração de 02 horas e 20 minutos, o filme mantém o público envolvido, embora seu segundo ato prolongado e o terceiro ato megalomaníaco possam causar certo cansaço. Uma duração mais enxuta, em torno de 02 horas, poderia aprimorar a experiência.

A fotografia é notável, com movimentações de câmera e enquadramentos que revelam tanto as semelhanças quanto as diferenças entre Elisabeth e Sue. O longa também homenageia clássicos do terror, como O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick e Carrie, a Estranha (1976) de Brian de Palma, através de cenários e figurinos que enriquecem a experiência cinematográfica.
"A Substância" surpreende com suas escolhas criativas, especialmente no terceiro ato, que pode dividir opiniões sobre o desfecho ideal. Apesar disso, é uma excelente ficção científica, com elementos de terror altamente gráficos e genuinamente aterrorizantes.

Com uma atuação excepcional de Demi Moore e um roteiro ousado de Fargeat, o filme é uma ótima opção para os fãs que apreciaram a nova versão de Suspiria (2018) de Luca Guadagnino, pois ambos começam de maneira segura e se desdobram em direções excêntricas.
Em uma escala de 1 a 10, "A Substância" merece um 9 pela inventividade e pela coragem de desafiar convenções em um cenário cinematográfico que clama por inovação.
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