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Artigo | Cinema e Política: De Chaplin aos Vingadores

Não Olhe Para Cima | Divulgação
Não Olhe Para Cima | Divulgação

Desde que o cinema existe, ele tem o poder de fazer a gente pensar e, às vezes, até mudar a nossa visão sobre a sociedade e a política. Seja para espalhar uma ideia ou para mostrar o que não tá certo e inspirar a gente a lutar por algo, os filmes podem ter um papel importante em formar a opinião das pessoas e em fazer a gente se mobilizar.


Lá no comecinho do século XX, o cinema já era usado para promover ideologias, questionar as regras da política e, claro, desafiar governos autoritários. Filmes como O Grande Ditador (1940), de Charlie Chaplin, Vingadores: Ultimato (2019), dos irmãos Russo, e Pantera Negra (2018), de Ryan Coogler, mostram como a sétima arte consegue refletir as tensões políticas da época e influenciar o que a gente pensa coletivamente.


E é justamente sobre esse poder do cinema de moldar a política que a gente vai conversar um pouco, vendo alguns exemplos de filmes que usaram a sua plataforma para gerar debates, impulsionar movimentos sociais e até peitar governos.


Para começar, o cinema sempre foi uma ferramenta para divulgar ideologias, principalmente em regimes autoritários. Na época do nazismo, por exemplo, a Alemanha de Adolf Hitler usou o cinema como uma forma de propaganda política.

Alexander Nevsky | Divulgação
Alexander Nevsky | Divulgação

A Leni Riefenstahl, uma cineasta que era bem próxima do regime, dirigiu o fatídico documentário, O Triunfo da Vontade (1935), já mencionado em outros artigos aqui no site, que basicamente exaltava o Partido Nazista e as multidões que o seguiam.


Com uma estética bem marcante, Riefenstahl manipulava as imagens para criar uma sensação de grandeza e de que todo mundo pensava igual, o que ajudava a firmar a imagem do Hitler como um líder carismático e que nunca errava. Mas não foi só na Alemanha que o cinema de propaganda foi usado para influenciar a opinião pública.


O governo soviético, por exemplo, também usou o cinema para promover o comunismo e as ideias de Stalin, com filmes como Alexander Nevsky (1938), de Sergei Eisenstein, que exaltava a resistência russa contra invasores germânicos, alinhando-se aos interesses políticos da época.


Essas produções ajudaram a fortalecer a ideologia do Estado e a criar uma visão da história que era favorável ao regime. E mesmo em tempos mais recentes, até em democracias consideradas mais livres, o cinema também já foi usado como ferramenta de propaganda.

O Dia Depois de Amanhã | Divulgação
O Dia Depois de Amanhã | Divulgação

Filmes como O Dia Depois de Amanhã (2004), dirigido pelo Roland Emmerich, foram usados para tentar conscientizar as pessoas sobre as questões ambientais e as mudanças climáticas, com um apelo bem forte para que governos do mundo todo tomassem alguma atitude.


Mesmo que não seja propaganda política no sentido mais clássico da palavra, filmes assim influenciam a opinião pública, incentivando as pessoas a pedirem mudanças políticas em relação ao meio ambiente.


Embora não haja um estudo específico do Pew Research Center que comprove uma relação direta, o aumento da percepção pública sobre a gravidade da crise climática nos anos seguintes ao lançamento do filme ilustra como o cinema pode impactar debates políticos.


Mas nem só de filmes de propaganda viveu o cinema. Muitos cineastas ao longo da história usaram a sétima arte como uma forma de resistência política e social, questionando as normas e criticando os governos e os sistemas políticos.

O Grande Ditador | Divulgação
O Grande Ditador | Divulgação

Um exemplo bem claro disso é O Grande Ditador (1940), do Charlie Chaplin. Esse filme, lançado durante a Segunda Guerra Mundial, fazia uma sátira de Hitler e do regime nazista de um jeito bem ousado e engraçado, usando o humor para questionar a tirania e as ideologias totalitárias.


O discurso final do personagem de Chaplin no filme, onde ele pede paz e democracia, tocou muito o público da época e continua sendo uma das falas mais marcantes da história do cinema. Com essa abordagem bem-humorada, Chaplin conseguiu tornar o tema da opressão mais acessível e gerar um debate político numa época em que muita gente ainda estava tentando entender a dimensão das ameaças fascistas.


O filme foi um sucesso não só artístico, mas também político, influenciando a maneira como as pessoas viam a guerra e a necessidade de resistir ao autoritarismo.


Outro exemplo de como o cinema pode desafiar o que está estabelecido é A Hora do Lobo (1968), de Ingmar Bergman, um filme que critica as tensões sociais e políticas da Suécia depois da Segunda Guerra Mundial. Essa obra é uma reflexão sobre o medo, o isolamento e as crises políticas que aparecem quando a gente perde a confiança nos líderes e nas instituições.


O cinema do Bergman, que muitas vezes é mais introspectivo e fala sobre a existência, desafiou as regras políticas e sociais, convidando o público a questionar as ideias que eram tidas como verdade e os valores da sociedade.

Vingadores: Ultimato | Divulgação
Vingadores: Ultimato | Divulgação

E nos dias de hoje, o cinema mais popular também tem uma capacidade enorme de influenciar o debate político, mesmo que de um jeito mais indireto. Filmes de grande sucesso, como Vingadores: Ultimato (2019), da Marvel Studios, são exemplos claros de como o cinema contemporâneo aborda questões políticas através de metáforas relacionadas a poder, sacrifício e responsabilidade, temas recorrentes em discussões políticas.


A luta contra uma ameaça global no filme pode ser interpretada como uma metáfora para o papel de líderes mundiais em crises como a mudança climática e a desigualdade social, enquanto a forma como os heróis lidam com liderança e sacrifício reflete tensões políticas atuais.


Além disso, o sucesso da franquia demonstra o poder do cinema em formar a opinião pública, incentivar o engajamento cívico e motivar reflexões profundas sobre a ética do poder e o papel dos líderes.

Pantera Negra | Divulgação
Pantera Negra | Divulgação

Ainda no mundo dos heróis, outro exemplo marcante é Pantera Negra (2018), dirigido por Ryan Coogler. O filme não só quebrou barreiras na representatividade negra em Hollywood, mas também trouxe discussões profundas sobre colonialismo, racismo e autodeterminação dos povos.


A nação fictícia de Wakanda foi apresentada como uma potência tecnológica africana não colonizada, desafiando narrativas ocidentais sobre o continente africano. Além disso, o conflito ideológico entre T’Challa e Killmonger reflete debates reais sobre identidade, diáspora africana e justiça histórica.


O impacto cultural do filme foi tão grande que influenciou discussões sobre representatividade política, fortalecimento de movimentos como o Afrofuturismo e até discursos de líderes políticos que usaram Wakanda como símbolo de empoderamento negro.

Bacurau | Divulgação
Bacurau | Divulgação

Outro exemplo de como o cinema pode desafiar o que está estabelecido, dessa vez nacional, é Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, um filme que mistura ficção e crítica social ao retratar um povoado resistindo à opressão.


A produção gerou um intenso debate político no Brasil e foi interpretada de diferentes formas, desde uma crítica ao imperialismo até uma reflexão sobre a luta de classes. O impacto do filme foi tão forte que até figuras políticas se manifestaram sobre ele, mostrando como o cinema ainda pode ser um meio potente de discurso e questionamento.


Ao longo da história, o cinema sempre teve o poder de moldar a opinião pública sobre questões políticas, culturais e sociais. Filmes como 12 Anos de Escravidão (2013), de Steve McQueen, tiveram um papel fundamental em jogar luz sobre a história da escravidão nos Estados Unidos e como isso ainda afeta a sociedade hoje.


O impacto do filme na forma como o público percebe o racismo e a opressão foi muito grande, incentivando discussões sobre justiça racial e igualdade nos Estados Unidos.

12 Anos de Escravidão | Divulgação
12 Anos de Escravidão | Divulgação

Por outro lado, o cinema também pode ser alvo de manipulação e desinformação. Um exemplo disso foi a recepção polarizada de Não Olhe Para Cima (2021), da Netflix. O filme usa uma metáfora para a crise climática e a inação governamental diante de desastres iminentes, mas acabou sendo alvo de campanhas de descredibilização.


Grupos negacionistas e políticos que discordavam da mensagem ambientalista promoveram desinformação sobre o filme, tentando minimizar seu impacto e desviar o foco do debate que ele pretendia gerar. Esse caso ilustra como a sétima arte pode tanto educar e conscientizar quanto ser distorcida para servir a interesses ideológicos.


Seja como ferramenta de propaganda, seja como forma de resistência, cineastas usam a sétima arte para questionar normas, desafiar regimes autoritários e promover mudanças sociais. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que nem sempre essa influência é positiva, já que o cinema também pode ser usado para manipular fatos.


No fim das contas, o cinema continua sendo uma força essencial para o debate público, moldando a maneira como vemos o mundo e as decisões que tomamos coletivamente.

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