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Artigo | Cinema em VR: A Nova Imersão

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O cinema sempre foi uma das formas mais poderosas de nos transportar para outros mundos. A cada década, novas tecnologias transformam a maneira como assistimos a filmes, e a realidade virtual e aumentada são as próximas grandes fronteiras dessa evolução.


Como cineasta, a perspectiva de como essas tecnologias imersivas estão moldando o futuro do cinema me entusiasma profundamente. Elas não estão apenas mudando a forma como consumimos conteúdo, mas também criando uma nova maneira de vivenciar histórias.


Quando falamos de VR, a ideia de estar fisicamente imerso dentro de um filme já não parece mais uma ficção científica. Com óculos e dispositivos que colocam o espectador dentro do ambiente, a experiência se torna mais que assistir; é quase como viver o filme.


A realidade virtual permite que o público explore cenários em 360 graus, movendo-se dentro do espaço, interagindo com objetos e personagens, e tomando decisões que influenciam a narrativa. Isso me faz pensar nas possibilidades infinitas. Imagine assistir a um filme onde você não é apenas um espectador passivo, mas um personagem que pode interagir com a trama.


Por exemplo, filmes como The Invisible Hours (2017) já experimentaram essa imersão com o formato de "jogo interativo", onde o público pode caminhar por uma mansão, observando a história de diferentes perspectivas, como se fosse um detetive tentando desvendar o mistério por conta própria. Essa ideia de total imersão na narrativa, com o poder de explorar e interagir, tem o potencial de redefinir o que é contar uma história no cinema.


The Invisible Hours | Divulgação
The Invisible Hours | Divulgação

Já a realidade aumentada, embora diferente, também está abrindo portas. Ao sobrepor elementos digitais ao mundo real, o AR oferece novas formas de storytelling, criando camadas extras de informação e experiência, como vimos em projetos como The Walking Dead: Our World (2018), que permite ao usuário combater zumbis no mundo real através de seus dispositivos móveis. O cinema pode utilizar essa tecnologia para criar filmes que vão além da tela, trazendo objetos, personagens e cenários para a vida do espectador.


Por mais empolgante que seja a ideia de um cinema imersivo, a transição para essas tecnologias não é simples. Uma das questões mais desafiadoras é como adaptar a narrativa para um formato que permita ao público interagir e explorar.


No cinema tradicional, o controle da história está nas mãos do diretor e da edição, mas na realidade virtual, o espectador tem mais liberdade de movimento e escolha. Como, então, manter o controle da narrativa sem perder a essência da experiência cinematográfica? Ainda não há uma resposta definitiva para essa pergunta, mas o que é claro é que os cineastas precisarão repensar a estrutura tradicional do cinema.


A experiência será mais fluida, sem a linearidade rígida dos filmes convencionais. Esse novo modelo de contar histórias, que mistura elementos de jogos e experiências interativas, exigirá um pensamento criativo ainda mais profundo. A própria edição será diferente.


Em vez de cortar de uma cena para outra de forma linear, o diretor precisará se concentrar em criar um ambiente coeso e emocionalmente envolvente em que cada movimento ou escolha do espectador possa moldar a narrativa de forma orgânica. Isso exigirá novas técnicas de filmagem e edição, além de uma forte colaboração com designers de jogos e desenvolvedores de software.


Apesar de os filmes em VR ainda serem uma experiência de nicho, já temos alguns exemplos notáveis que estão moldando o futuro dessa tecnologia. Sens (2017), por exemplo, é um filme de VR interativo que explora as emoções humanas, onde o espectador assume o papel do protagonista e é levado a tomar decisões que impactam o desenrolar da trama.

Sens | Divulgação
Sens | Divulgação

Outro exemplo é The Lion King VR (2019), que, embora ainda no formato de uma experiência interativa e não um filme completo, oferece um vislumbre de como o clássico pode ser recriado em VR, oferecendo ao espectador uma nova perspectiva sobre um filme amado.


Além disso, estúdios como o ILMxLAB, de Lucasfilm, estão investindo fortemente em VR para criar experiências imersivas, como a série de VR Star Wars: Secrets of the Empire (2017), que transporta os espectadores para o universo de Star Wars de uma maneira totalmente nova e interativa.


Esses projetos têm sido fundamentais para mostrar o potencial da VR no cinema, abrindo caminho para experiências mais profundas e imersivas. O mais emocionante é que estamos apenas começando a explorar o que essa tecnologia pode fazer.


Como cineasta, vejo que as possibilidades do futuro são quase infinitas. A medida que a tecnologia de VR e AR evolui, podemos esperar experiências cada vez mais sofisticadas e imersivas.


Imagine filmes em que o espectador possa ser parte da ação, ou até mesmo escolher o final da história. Pense em uma produção de terror onde a tensão não vem apenas da tela, mas de uma sensação de presença física no ambiente do filme. Ou ainda, um drama em que o público tem a oportunidade de interagir com os personagens e influenciar seus destinos.

Star Wars: Secrets of the Empire | Divulgação
Star Wars: Secrets of the Empire | Divulgação

O que mais me entusiasma é que a experiência cinematográfica não precisa mais se limitar a uma sala escura com uma tela na frente. O cinema do futuro pode acontecer em qualquer lugar, com o espectador no centro da ação.


Além disso, a VR e o AR têm o potencial de democratizar a experiência cinematográfica, permitindo que mais pessoas de diferentes partes do mundo se envolvam de maneira profunda e pessoal com as histórias.


À medida que o cinema abraça novas tecnologias, como a realidade virtual e aumentada, estamos prestes a viver uma revolução na forma como contamos histórias. Essas tecnologias imersivas têm o poder de transformar não apenas a forma como consumimos filmes, mas também a maneira como os criamos.


Como cineasta, fico empolgado com o que o futuro reserva e com as novas possibilidades que surgem a cada dia. A realidade virtual e aumentada não são apenas uma tendência; são a próxima evolução natural da arte de contar histórias, e o cinema imersivo é um caminho cheio de descobertas, desafios e, acima de tudo, novas formas de fazer arte.

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