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Artigo | Cinema Mundial: Identidades em Cena

A Criada | Divulgação
A Criada | Divulgação

Como cineasta e apaixonado por todas as formas de arte cinematográfica, sempre me fascinei pela maneira única como o cinema reflete a cultura de diferentes países.


O cinema não é apenas uma forma de entretenimento; ele é um espelho da sociedade, das suas preocupações, esperanças e medos. Cada nação traz para suas produções uma visão de mundo própria, influenciada por sua história, valores e tradições.


A cinematografia de países como Japão, Índia, Coreia do Sul e França, por exemplo, não só apresenta uma estética distinta, mas também oferece uma janela para entender a cultura e o contexto social de cada lugar.


Começo pela cinematografia japonesa, que sempre me atraiu pelo equilíbrio delicado entre estética e filosofia. O Japão tem uma longa tradição de filmes com forte carga emocional e sensorial.


A natureza e o silêncio têm um papel central em muitos filmes japoneses, como os de Akira Kurosawa, cujo trabalho em Os Sete Samurais (1954) não só transformou o gênero de filmes de samurai, mas também imortalizou a ideia do "homem honrado" na cultura popular mundial.


Outro exemplo notável é o trabalho de Hayao Miyazaki, fundador do Studio Ghibli. Filmes como A Viagem de Chihiro (2001) exploram temas como a pureza infantil, a natureza, e a relação do ser humano com o mundo espiritual, dentro de uma visão profundamente enraizada nas tradições e mitologias japonesas.


O cinema japonês, seja em filmes de animação ou live-action, reflete a importância da harmonia, do respeito pela natureza e da espiritualidade, valores profundamente enraizados na cultura do país.

Lagaan | Divulgação
Lagaan | Divulgação

Se há um país cuja cinematografia é reconhecida mundialmente pela sua explosão de cores, música e emoção, esse é a Índia. O cinema indiano, em particular a indústria de Bollywood, tem um estilo único que mistura drama, música, dança e romance em um espetáculo visualmente deslumbrante.


Como espectador e criador, sempre me impressionei com a maneira como os filmes indianos transmitem emoções de uma forma visceral, capturando as complexidades das relações humanas e da vida cotidiana, mas com um toque de fantasia e idealização.


Filmes como Lagaan (2001), dirigido por Ashutosh Gowariker, não só contam histórias de resistência, como também apresentam a vida na Índia colonial, refletindo sobre temas como a luta contra a opressão e a importância da união.


A cinematografia indiana, com suas coreografias de dança e cenas de ação exuberantes, reflete a energia vibrante e a diversidade do país, ao mesmo tempo que mergulha nas questões sociais e culturais que definem a Índia.


Além de Bollywood, o cinema de outras regiões da Índia, como o cinema de Tamil Nadu (Kollywood) e o cinema de Kerala (Mollywood), traz à tona questões regionais e locais, com um estilo de contar histórias mais introspectivo e realista. Mas, no fundo, todos esses estilos compartilham uma coisa: uma imersão profunda nas tradições, na música e na espiritualidade indianas.


A cinematografia sul-coreana tem ganhado destaque mundialmente nos últimos anos, especialmente após o sucesso de filmes como Parasita (2019), de Bong Joon-ho.

Memórias de um Assassino | Divulgação
Memórias de um Assassino | Divulgação

O cinema coreano reflete, de maneira crua e muitas vezes perturbadora, as tensões sociais, econômicas e políticas do país. O conceito de classes sociais, por exemplo, é explorado de maneira profunda em muitos filmes coreanos, como é o caso de Oldboy (2003) de Park Chan-wook e Memórias de um Assassino (2003), também de Bong Joon-ho.


Além disso, o cinema sul-coreano tem uma abordagem estética e narrativa muito dinâmica. A cinematografia é frequentemente caracterizada por um ritmo rápido e tenso, com uma combinação de ação, drama e horror psicológico, que reflete o clima de tensão política e as rápidas mudanças culturais e tecnológicas do país.


Filmes como A Criada (2016), também de Park Chan-wook, são um excelente exemplo de como a Coreia do Sul utiliza o gênero para abordar questões de poder, identidade e sexualidade, com uma fotografia exuberante que desafia as convenções visuais.


Quando penso na França, o primeiro aspecto que me vem à mente é a longa tradição de cinema autoral, um estilo que se caracteriza pela busca de autenticidade e uma forte visão pessoal dos cineastas. A Nouvelle Vague, movimento que surgiu na década de 1960, foi um marco para o cinema mundial, trazendo uma nova maneira de fazer filmes.


Diretores como Jean-Luc Godard, François Truffaut e Agnès Varda começaram a experimentar com a narrativa, o uso da câmera e a edição, criando filmes que não seguiam as regras convencionais.


Filmes como Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut, e O Desprezo (1963), de Godard, são reflexões filosóficas sobre o amor, o existencialismo e as questões sociais, com uma abordagem de filmagem que capta a essência da vida cotidiana, mas de maneira visceral e inovadora.


A cinematografia francesa também é conhecida pela forma como lida com o tempo e o espaço, muitas vezes utilizando longos planos e uma edição mais contemplativa.

Os Incompreendidos | Divulgação
Os Incompreendidos | Divulgação

Hoje, a França continua a ser um centro importante para o cinema de autor, com cineastas contemporâneos como Jacques Audiard e Céline Sciamma, que exploram as complexidades das emoções humanas e questões sociais, mas sempre com uma sensibilidade e elegância que são marcas registradas da cinematografia francesa.


O que mais me fascina na cinematografia ao redor do mundo é a maneira como cada país usa o cinema para refletir suas próprias particularidades culturais, mas também como ele conecta públicos globalmente. O cinema japonês é introspectivo e filosófico, o indiano é emocional e vibrante, o sul-coreano é intenso e socialmente consciente, e o francês é autoral e inovador.


Como cineasta, acredito que cada um desses estilos oferece lições valiosas sobre como utilizar o poder visual do cinema para comunicar mensagens universais, ao mesmo tempo em que celebra a singularidade cultural de cada nação. E, como público, é um prazer imenso poder viajar por essas culturas e mergulhar em suas histórias.


O cinema tem essa capacidade única de transcender fronteiras, de criar conexões entre pessoas de diferentes partes do mundo, e ao mesmo tempo, de oferecer um olhar profundamente íntimo sobre a alma de uma cultura. E é exatamente isso que torna o cinema tão poderoso: sua capacidade de refletir, questionar e celebrar a diversidade da experiência humana.

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